O louco e cidade do amor...
Era conhecido como o louco da Vila Grande.
As pessoas falavam dele rindo e troçando.
Quando alguém queria falar mais a sério sobre as coisas,
Os que não queriam ser interpelados diziam:
“Pareces o louco da Vila Grande”
Certo dia,
Ao passar na praça central de Vila grande,
Deparei com o louco que falava coisas que ninguém queria ouvir.
Parei e comecei a olhar atentamente e a escutar as palavras proferidas pelo louco.
O seu aspecto não era vulgar,
Mas não me pareceu um louco.
Comecei a prestar atenção às palavras que proferia:
“Os seres humanos têm a possibilidade de criar um mundo melhor, dizia o louco.
Deus dotou-os com a capacidade de criar cidades regidas pela lei do amor fraterno:
O ser humano tem a capacidade de optar, decidir e programar de acordo com os princípios do amor:
As pessoas são capazes de eleger os outros como alvo de bem-querer.
Têm capacidade para aceitar os outros,
Apesar de estes serem diferentes.
Os homens são capazes de fazer opções, escolhas e programas em que o princípio básico seja a decisão de facilitar a realização de todas pessoas.
Numa cidade regida pelos princípios do amor – dizia o louco de Vila Grande – a edificação da cidade é obra de todos.
Todos se sentem chamados e válidos para a tarefa da edificação da cidade.
Todos são válidos…
Todos são felizes,
Pois ninguém se sente obrigado a fazer aquilo para o qual não sente vocação ou aptidões.
Nessa cidade,
Ninguém pensa em criar necessidades artificiais nas pessoas,
A fim de poder ganhar dinheiro.
Naquela cidade todos fazem render o melhor dos seus talentos e capacidades.
O valor máximo daquela cidade,
São as pessoas e os seus direitos fundamentais.
As pessoas daquela cidade não têm medo,
Pois ninguém procura o mal ou o prejuízo do seu irmão.
Naquela cidade ninguém vive sem sentidos.
Viver sem sentido é uma das principais causas de perturbações psíquicas de doenças mentais graves.
Todos são valorizados nas suas capacidades e talentos.
Por isso ninguém se sente marginalizado.
Todos aprendem desde pequenos a escutar e compreender os outros.
As crianças são estimuladas a dizerem o que sentem, sem medos nem angústias.
Não há pessoa com carências
Também ninguém vive desumanizado por ter demasiado.
As aspirações mais profundas das pessoas daquela cidade
Concretizam-se em projectos de vida e instituições de encontro, convívio e diálogo fraterno.
Naquela cidade todas as pessoas encontram possibilidades de realização pessoal.
Os habitantes daquela cidade são felizes por poderem dar o melhor de si
E receber o melhor dos outros.
Por isso não há pessoas machucadas naquela cidade.
Aprender,
Na cidade do amor,
Não é tarefa aborrecida.
A vida exprime-se em comportamentos que exprimem criatividade, partilha, diálogo e apreço pelos outros.
A saúde para todos é um direito plenamente adquirido.
Naquela cidade não há covardes nem heróis.
Não há tarefas nobres
E tarefas humildes e desconsideradas.
Também não existe corrupção.
Dar as mãos é um gesto espontâneo”.
As pessoas que passam riam-se e troçavam das palavras do louco.
Os ricos da Vila não gostavam de ouvir os discursos daquele louco.
Antes de se retirar,
O louco ainda disse: “Sonhei que este é o querer de Deus para todos os seres humanos”.
Depois desapareceu no meio das árvores da praça.
Algum tempo depois ouvi dizer que o louco da Vila grande aparecera morto junto ao ribeiro dos esgotos da Vila.
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